Recentemente fui corrigir isso, e comecei buscando textos sobre consciência animal, e essa busca para mim era a chave dessa questão, pois já que se animais são conscientes, não há como justificar uma subjugação. Inclusive faço um adendo que várias informações aqui podem conter erros, estarem próximas de outros textos, estarem não adequadas como um todo e o artigo parecer sem pé nem cabeça para você, por favor fique a vontade para me corrigir e dar sua opinião nos comentários ou nas minhas redes, o “Devaneios da Taverna” existe como um exercício de desabafo, de aprendizado, e eu agradeço toda a ajuda nesse sentido.
Agora preciso colocar parênteses aqui: (Para muita gente a questão da consciência animal era algo claro e notório, límpido como a mais potável das fontes de água, entendo, mas infelizmente para mim, tal conceito não era assimilado. Especismo? Com certeza! Mas é preciso não ter compromisso com o erro e ao se ver como me vi, profundamente enganado, buscar ler, estudar e alterar posições e comportamentos).
Consciência
Voltando a questão, quando busquei informações por consciência animal, achei que me faltava o conhecimento sobre o que era consciência, descobri que aparentemente não há um consenso cientifico sobre ela, e sim algumas afirmações que se complementam:
A consciência a grosso modo trata do combo: subjetividade (relacionado ao sujeito, ao indivíduo e o que está relacionado a ele), autoconsciência, senciência, sapiência e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente.
Vamos abordar esses pontos com mais calma:
Autoconsciência é a lógica da consciência, como se fosse algo automático, simultâneo a consciência, mas anterior logicamente, você não pensa para ter autoconsciência, ela é anterior a reflexão, quando você tem consciência de um objeto, você tem autoconsciência daquele objeto. (Complexo? Também acho, em outros textos espero que possamos estudar mais a respeito juntos.)
Senciência é a habilidade de sentir, ter sensações, ter sentimentos de forma consciente. É ter percepções conscientes do que acontece contigo e do que está a sua volta.
Sensações como dor e agonia, emoções como o medo e a ansiedade, são estados subjetivos próximos do pensamento e existem na maior parte dos animais.
Se tem a capacidade de sentir, é um ser senciente, portanto a grande maioria dos animais são seres sencientes. Nós humanos, obviamente somos sencientes.
Para além da dor, a senciência abrange também a capacidade dos seres experimentarem o mundo de forma individual, utilizando órgãos sensoriais que obviamente fornecem a criatura imagens, sons ou odores que precisam ser interpretados. Dessa forma isso atingiria além dos animais vertebrados, os invertebrados como insetos, moluscos e aracnídeos.
Sapiência, alguns chamam de sabedoria, é a capacidade de se agir com um julgamento apropriado, para uns é parte da inteligência, mas para outros seria uma outra faculdade com suas próprias características.
O susto
Dentro desses parâmetros de consciência, eu ignorante como sou já me percebi um especista, quando isso ocorre, a gente se choca, e é comum querermos esconder o sol com a peneira, se fazendo de morto para não ter que mudar, que é o que eu chamo de compromisso com o erro, dói mas é preciso cutucar essa ferida, para nos tornamos algo melhor.
Mas agora falei duas vezes sobre especismo, se você não conhece o termo, como eu não conhecia, é preciso falar um pouco sobre: especismo é o preconceito contra criaturas que não são de uma determinada espécie. Como preconceito, está na família do racismo, sexismo e outros que não possuem argumentos científicos. Ele tenta justificar a exploração de uma espécie contra outra, normalmente mantendo privilégios.
Agora que explicamos especismo, volto ao meu. Ficou claro que se por algum motivo eu não queria entender que os animais eram conscientes, no mínimo eles seriam sencientes, o que já é uma situação complicada, mas o susto maior estava por vir, eu continuei pesquisando e encontrei a Declaração de Cambridge, você conhece?
Sucintamente ela diz o seguinte:
"A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos".
Essa declaração foi realizada em Cambridge, Reino Unido, no dia 07 de julho de 2012, feita por Philip Low, Jaak Panksepp, Diana Reiss, David Edelman, Bruno Van Swinderen, Christof Koch e assinada por tantos outros cientistas e neurocientistas na presença de Stephen Hawking.
Tal afirmação basicamente diz que os humanos não são os únicos que possuem as condições para serem conscientes, e portanto os animais também possuem tais condições e podem ser conscientes. Não é o córtex cerebral o responsável pela consciência e sim todo o cérebro!
E então o bicho literalmente pega, já que os animais não são apenas sencientes, eles são conscientes. Como agora justificar o uso de animais como comida, ou mesmo como meras ferramentas?
O susto 2
Depois disso eu me questionei se as plantas seriam sencientes, já que no passado, eu lembro de ter visto na TV, ou em algum lugar a questão das plantas sentirem dor, ou algo semelhante. O livro “A Vida Secreta das Plantas”, tratava do tema, mas os cientistas de referência na área concordam em dizer que esse livro trouxe mais problemas para o tema do que soluções, experimentos com resultados que não puderam ser repetidos e outras falhas.
Porém aparentemente Charles Darwin já se preocupava com isso, ele fala do poder do movimento das plantas em um dos seus livros, mostrando que as plantas não são imóveis, e Linnaeus já trabalhava a questão dos ciclos das plantas, sobre o “sono” delas.
E hoje existem departamentos de neurobiologia vegetal, estudando como as plantas adquirem e processam informações, alguns cientistas não concordam com o uso de “neuron”, pois as plantas não possuem neurônios, porém suas células são recobertas por receptores parecidos com o glutamato (GLRs), portanto as células da planta se comunicam entre si como no sistema nervoso dos animais. Interessante não?
(O glutamato é o aminoácido mais abundante no sistema nervoso central (SNC) agindo como neurotransmissor excitatório. Além disso, atua no desenvolvimento neural, na plasticidade sináptica, no aprendizado, na memória e possui papel fundamental no mecanismo de algumas doenças neurodegenerativas.)
O ponto é que para definir quem merece ser tratado como igual sempre partimos de uma comparação entre nós, seres humanos e os demais, e isso é um erro, já que as criaturas vivas tem todo um funcionamento diferente do nosso.
No caso das plantas, elas podem ver, resolver problemas e ouvir, mas sem os órgãos que nós humanos possuímos, segundo Chamovitz, (geneticista de plantas), os sentidos das plantas são controlados pelos cérebros que estão localizados em cada ponta de raiz e pode ser entendido através da idéia do que ocorre com as aves, no caso o “murmurations” e “school of fish “ no caso dos peixes, onde cada criatura se comporta como se estivesse acatando ordens de algo fora deles, porém nas plantas, são as células operando harmoniosamente através de uma mesma ordem.
Nós temos a idéia de que as plantas não se movem, não sentem e não pensam, como se fossem um talher ou um prato, e isso é um erro, temos essa percepção pelo simples fato de não a enxergamos como são, criaturas vivas bem diferentes de nós.
Há estudos que mostram que certas plantações ao serem atacadas por pragas numa parte, enviam um sinal para a outra parte da plantação, dando tempo para que essas plantas da outra parte produzam alguma substância química contra os predadores. Um outro estudo mostrou que o barulho da lagarta mastigando faz com que a planta libere defesas químicas em suas folhas. Há também um terceiro estudo onde uma planta parasita, conseguia farejar um possível hospedeiro, localizado o alvo, ela avança em direção a ele, mesmo pelo ar e se enrola nele para se alimentar.
Enfim me parece que as plantas são sencientes (sim muitos cientistas discordam, mas se mantenha aqui no meu raciocínio, talvez isso não seja tão importante assim), e se elas são, a questão moral da exploração acaba abraçando o reino vegetal também, pois é. Seguimos.
Origem e Fim
Nós e as plantas, tivemos uma origem, uma primeira organização celular comum, ou seja temos alguma relação de parentesco, então quando derrubamos uma árvore, ou pisamos numa planta, estamos extinguindo ali um parente próximo, ou distante. Apesar de sermos visivelmente diferentes, termos comportamentos diferentes, na questão molecular, somos muito parecidos, toda a vida na Terra compartilha o mesmo planeta e a mesma biologia molecular. Quem disse isso se não me engano foi Carl Sagan.
Não é interessante pensar que ficamos imaginando como seriam as vidas extraterrestres, mas temos uma grande dificuldade de entender que plantas, animas e outros seres vivos possuem uma organização social, uma comunicação singular e tantas outras características que costumeiramente percebemos em representações de civilizações alienígenas no cinema, mas não conseguimos enxergar nestes seres que estão a nossa volta?
Estou tentando chamar a atenção para o preconceito, para o paradigma que temos, não sei se cultural “desde os tempos mais remotos” e mantidos até hoje, de que tudo a nossa volta apesar de estar vivo existe para nos servir, se intrinsicamente, somos todos seres vivos, e toda desculpa que inventamos seja a razão, a consciência, a senciência ou qualquer outra coisa são apenas para mantermos as coisas como estão, seja eu por ser ainda onívoro ou seja o amigo vegano, que ainda não vê a questão das plantas. (Lembra da questão das plantas serem ou não sencientes? Não basta estarem vivas?)
Para mim é claro que devo me tornar vegetariano e posteriormente vegano, pois o fato dos animais possuírem consciência, principalmente os explorados por nós, torna inaceitável o que fazemos com os mesmos, e para além disso devemos desenvolver soluções para que em algum momento seja possível uma forma de nos alimentarmos, vestirmos e morarmos, sem que a exploração vegetal ocorra.
Como degraus que devem ser descidos aos poucos em direção a uma igualdade entre o homem e toda a vida, saindo do antropocentrismo (homem como centro do universo), passando pela questão da consciência, pela senciência e chegando no entendimento que somos todos iguais e portanto o ser humano é mais um animal a habitar este planeta, parte da natureza e não dono dela.
E aqui o humano torce o rabo, muita gente acredita que o ser humano é o problema do mundo, que a única solução para todas as questões do planeta é um meteoro vir e acabar com todos nós. Porém se ignora que não é o ser humano em si o problema, e sim o sistema em que estamos organizados, já que é esse sistema baseado em consumo, em muitos casos de coisas supérfluas, sem sentido, sempre extraindo, retirando mais do planeta do que ele pode produzir, jogando no lixo muito do excedente e que não atende as necessidades básicas da grande maioria é que promove a depredação da vida. Como é possível defender um sistema que produz mais do que é necessário a todos e ao invés de atender geral com seu excedente, prefere jogar fora?
Não quero entrar no mérito do sistema de forma densa agora, mas quero mostrar que antes da exploração animal e vegetal, temos a exploração humana, e elas estão interligadas devido a visão do sistema entender que vegetais, animas e humanos são todos recursos, para serem usados e descartados, ou seja a vida em si é um recurso para a manutenção desse sistema.
Essa visão acaba por dar “valor” a tudo de acordo com uma ótica que não é humana, que não prioriza a vida, então voltando aos degraus, temos que entender que a vida deve ser trabalhada de forma digna, seja um trabalhador que precisa ter uma jornada de trabalho, salário, saúde, educação e lazer adequados para que ele viva, seja para a vaca leiteira, produzir seu leite, ou para a mangueira produzir sua manga. Que uma visão macro de bem estar, não torne a vaca e o trabalhador em carne moída como fazemos agora, e nem a mangueira em cadeiras, apenas para concentrar a riqueza para cerca de 1% de toda a população humana, em detrimento a outras opções que já possuímos dentro da tecnologia atual.
Hoje se alterarmos a lógica do sistema, ou o próprio, nós já podemos dar melhores condições a nós humanos e aos animais, para mim ficou claro que não cabe mais o consumo de carne animal, mas é necessário um processo, por exemplo a redução do consumo, através de iniciativas de educação balanceando a nossa dieta, políticas públicas de fomento, fornecendo mais vegetais de qualidade a preço acessível, incentivos para que a indústria tenha produtos mais adequados a uma dieta balanceada e menos fetichista em relação a carne.
Ao dar dignidade ao ser humano, tornando-o um ser humano completo, livre e crítico, através de uma educação orientada a isso, e tendo o mínimo para que ele possa se dedicar a “ser” humano e não uma ferramenta apenas, é possível fazer melhores escolhas, entender todos os pormenores que passamos rapidamente por cima aqui e por tanto chegar a uma igualdade entre todos os seres vivos.
Questões
Doggor, você vai virar vegano?
Eu gostaria, não sei quando, não sei como ainda, mas eu preciso fazer esse processo, eu já como menos carne que a maioria das pessoas, e quero zerar isso. Espero trazer novidades em breve.
Doggor, você escreveu, escreveu e não disse nada.
Acontece, o Devaneios na Taverna é um exercício meu, publicar é uma forma de talvez eu receber questionamentos e elaborar melhor meus pensamentos, e publicado fica fácil enviar aos amigos e familiares para ter o mesmo questionamento e evolução.
Eu li esse texto quando foi publicado e agora tá diferente, o que ouve?
A idéia é melhorar a “tese”, parto do pressuposto que eu tenho uma idéia, ao confrontá-la com outras idéias, e sem compromisso com o erro, irei melhorar tal idéia ou irá surgir uma nova, isso não pode parar, pois entendo que devemos sempre tentar compreender melhor o mundo que nos cerca.
Quais as fontes desse texto?
Esse texto eu produzi de improviso, dentro do que eu já li e vi em algum lugar, nada aqui é de fato autoral meu, e sim o resumo de um compilado de conhecimentos, portanto eu não fiz uma pesquisa e fui anotando as fontes, você pode copiar partes desse texto e jogar no google, ou melhor ainda pesquisar sobre temas específicos dentro dele que você receberá como resposta muitos artigos e textos. Inclusive explicações mais técnicas como sobre o Glutamato, que eu peguei na net na hora. Minha intenção era desenvolver a tese, que acabou sendo a minha descoberta de que eu seria um especista, e agora preciso quebrar isso. Rsss
Obrigado por compartilhar suas pesquisas meu caro
ResponderExcluirEu que agradeço a leitura e comentário! Obrigado!
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