Joguei muitos MMORPGs, assim como todo mundo da minha faixa etária que joga, há pelo menos 27 anos venho jogando diferentes títulos. Entre esses os que mais dediquei tempo, e que posso falar com alguma propriedade foram: Erinia, Ragnarok Online, Dungeons & Dragons Online, Lineage II, Lord of The Rings Online, The Elder Scrolls Online, Lost Ark, New World e Albion Online.
Joguei menos mas joguei: Ultima Online, Tibia, Cabal Online, Priston Tale, Black Desert Online, Final Fantasy XIV, Guild Wars 2, Runescape, Old Runescape, Tera, Age of Conan, e DC Universe Online.
E apesar de desde sempre gostar da série de estratégia Warcraft, World of Warcraft é um MMORPG que me escapava. Seja devido ao valor da assinatura, seja a impossibilidade de ter uma máquina que rodasse. E quando tinha a máquina e o dinheiro, não me interessava, as vezes já estava imerso em outro MMORPG, com guildas e amigos, ou a vida não permitia naquele momento.
Tardiamente acabei jogando o Legion em 2016, fiz uma parte do conteúdo da expansão, também um pouco da expansão anterior Warlords of Draenor. Com um Demon Hunter explorei o jogo superficialmente, e não me pegou.
Voltei mais tarde com o advento do World of Warcraft Classic em 2019, joguei com um grupo de amigos encabeçado pelo Ditrica. Foi legal por jogar em grupo, mas acabei não ficando muito tempo. Uma das coisas que me incomodava era um certo tom humorístico, apesar do estilo cômico e algumas piadas que a série de estratégia tinha, o World of Warcraft tem muito mais tiradas, a meu ver principalmente a “versão brasileira”.
Isso tirava um pouco a minha vibe de fantasia medieval, com uma pegada mais Tolkien, o World of Warcraft tem muito disso, mas aquele humor todo me incomodava. Eu sei, eu sou chatão. Muita gente curte o humor do jogo, eu passei a dar valor um tempo depois.
Então recentemente o mesmo amigo que organizou o grupo do World of Warcraft Classic, estava jogando Pandaria Remix, acabei assistindo e o jogo me pareceu muito dinâmico e interessante, partidas rápidas, pegar roupinhas e montarias, e mais partidas.
Preciso fazer uma pequena explicação aqui para quem não me conhece, minha experiência com games depois de adulto, se dá muito na necessidade de jogar RPG e não ter mesa para isso, RPG sempre foi uma paixão, e infelizmente a vida adulta acabou me tirando isso, tentei jogar por fóruns, tentei jogar por email, mas não era a mesma coisa. Então o RPG eletrônico, ele vem para mim muito para preencher esse vazio que o RPG deixou.
Quando surgiram as “mesas remotas” eu já estava imerso no mundo dos MMORPGs, e eu não tinha tempo para tocar as duas coisas, o formato “instantâneo” dos MMORPGs acabou se tornando mais confortável, do que mestrar ou mesmo arranjar espaço na agenda para se reunir com um grupo. Então basicamente quando eu jogava eram jogos com elementos de RPG, em sua maioria com temática de fantasia medieval.
É claro que passei por outros tipos de jogos, mas estavam mais relacionado ao futebol por exemplo, durante muito tempo só jogava isso e jogos de corrida, e recentemente com os filhos, acabo jogando algo que eles queiram.
Explicado isso, eu tinha acabado de diminuir meu preconceito com coisas casuais assim, devido a uma temporada jogando Fortnite, em seguida uma pegada ainda casual mas menos com o Dungeonborne, (jogando com o querido casal John e Robin), e achei que caberia experimentar aquele modo de jogo bem tranquilinho do World of Warcraft e dar mais uma chance ao jogo.
Fui jogar Pandaria Remix com o Ditrica velho de guerra, mas jogar com esse rapaz é correria, é um menino tryhard, ele vai dizer que não, e de fato no tingir das tintas ele não é, mas comparado comigo ele é tryhard ao extremo!
Várias estratégias e truques para ser mais eficiente, mais rápido para upar e etc., e então upamos um char até o limite rapidamente, que era naquele momento pré War Within, o nível 70.
Essa parte não me empolgou muito, mas a companhia e o papo com o amigo eram mais interessantes, assim o jogo se tornava pano de fundo.
Ditrica com sua missão concluída, se foi para aventuras mais hardcores, e eu fui explorar Pandaria. E aí meu amigo, foi que o jogo me pegou, aquele cenário de Pandaria, templos suntuosos, árvores majestosas, com pequenas vilas entre suas raízes, eu voava para tudo que é lado. A sensação de um mundo gigantesco, de fazer parte de algo grandioso, e se sentir pequeno naquela vastidão.
Um belo gráfico! O que me chocou, pois estava com a memória do Legion de 2016, e o Classic tem o gráfico do Classic obviamente.
Voava pelo mundo, achava mobs raros, com drops interessantes, dungeons a serem descobertas, locais para explorar, curiosidades, segredos, um jogo incrível se apresentava para mim.
Fazia tempo que não me empolgava assim com um MMORPG!
Fui fazer o finalzinho de temporada do Dragon Flight, e achei tudo ainda mais bonito, de fato Krisoph sempre teve razão! Krisoph é outro amigo, que jogou durante muito tempo World of Warcraft. Quantas vezes não debati com ele sobre o gráfico do WoW, sobre os detalhes das armaduras, principalmente as ombreiras.
Krisoph sempre dizia: - Doggor, o WoW vem se renovando, sua idéia sobre o jogo é de uma realidade de tempos atrás, que não existe mais!
E é verdade, principalmente nas partes mais novas o jogo é lindo, você pode pessoalmente não gostar do estilo de desenho e preferir gráficos realistas, mas não dá para não dizer que é lindo!
As partes mais velhas, expansões mais antigas, precisam de atenção, muitos cenários estão visivelmente datados, apesar de alguns terem sofrido uma recauchutada na expansão Cataclisma em 2010, já se vão 14 anos, mas os cenários das expansões mais recentes estão muito bonitos e detalhados.
A história de Dragon Flight era muito boa, não vi tudo, pois em seguida veio War Within.
Nessa última expansão fiz tudo da campanha principal, das missões secundárias, imersões, dungeons e missões mundiais até a entrada da primeira Raid. Gostei muito de tudo. O WoW me encantava! Um dos melhores MMORPGs que já joguei.
Tudo lindo, tudo maravilhoso, eu estava empolgado com World of Wacraft, mas eu sempre caio nas minhas críticas sobre o modelo de negócio dos jogos, a questão de ter uma forma explícita de viciar as pessoas, de mantê-las no jogo. Uma estrutura pré-moldada para tornar mais fácil colocar conteúdos novos no jogo, o que acaba tornando toda expansão parecida, onde apenas a história é uma novidade.
Em War Within existem as mesmas mecânicas de forma geral que havia em Dragon Flight, e sim, eu sei que um MMORPG vai ter repetição mesmo, mas se é isso por que tornar o conteúdo anterior obsoleto?
A meu ver “deixar para trás” as antigas regiões facilita o balanceamento/equilíbrio em relação a nível, equipamentos e profissão. As temporadas aproximam WoW a jogos com conteúdos “menores” com esses esquemas de sazonalidade. São jogos diferentes, porém focados em conteúdos de temporada.
Todo jogo comercial/industrial ele foca em vender, obviamente, e portanto a grande maioria dos outros MMORPGs também possuem mecânicas psicológicas para manter você nele, os outros MMORPGs que joguei, como o ESO, New World, Lost Ark e tantos outros possuíam em mais ou menos grau, estratégias para te prender, e muitas dessas mecânicas não tem relação com a qualidade do entretenimento.
Porém nos demais MMORPGs onde sua progressão está vinculada com toda a história do jogo desde o seu lançamento, eu tenho uma percepção de que tudo é útil. Está difícil esquecer a dor no coração que foi perceber que aquela beleza de Garrison de Warlods of Draenor não tem quase serventia para nada, tantas mecânicas jogadas fora. Eu joguei na Aliança e não sei como é na Horda, mas é incrível aquela pequena vila, com tanta coisa que eu gostaria que tivesse no sistema de housing do ESO por exemplo, lugar para pescar, ferraria, serraria, torre dos magos. É tanta coisa que os jogadores contemporâneos àquela expansão até reclamavam de que o povo não saía das guarnições.
De fato aparenta que o game design ficou um pouco quebrado, porém é um tipo de ferramenta que não deveria ter se tornado inútil. Entendo que a guarnição dar benefícios de poder após a finalização de Draenor seria um problema de equilíbrio que a Blizzard tenta evitar dentro do seu modelo para o World of Warcraft. Mas porque não liberar algumas features de personalização cosmética na guarnição? Já é possível colocar alguns monumentos e escolher os prédios, mas que tal permitir a troca de móveis por exemplo, decorar de forma diferente os cômodos e por aí vai.
Não precisava ser um sistema de housing completo, apenas algumas opções, mas infelizmente não, a Blizzard prefere tratar cada expansão quase como um jogo novo, trazendo novidades na história, mas quase que jogando o passado dos personagens fora.
A própria questão de níveis nas áreas antigas acaba sendo um “problema” pois o WoW optou por manter os bichos de certas áreas fracos com um drop ruim, diferente de outros jogos onde o nível dos bichos acompanha o seu, e o drop é mais respeitável. Assim há menos motivos para você revisitar as áreas antigas, já que o drop é escasso, você vai apenas pontualmente quando quer pegar algo específico.
Foi o meu caso com a jangada em Pandaria, ou para desbloquear a guarnição em Draenor, e poderia ser por uma montaria ou um transmog.
O ponto é que o processo de pegar essas coisas se torna maçante, os mobs são fáceis, e raramente dropam algo útil, até mesmo a quantidade de gold é muito baixa, então subir uma reputação com alguma facção se torna tedioso, ou desbloquear e upar a guarnição, ou simplesmente o farm de algum mob para dropar uma mount. Você deixa de ter recompensa e motivação para estar ali.
Claro que você pode fazer as atividades da Crona, setando um char para uma expansão específica, porém você não pode fazer isso com um char no nível máximo, você precisar utilizar um outro char de nível mais baixo para ter acesso a esse conteúdo.
Você também pode fazer outro conteúdo “adaptado” ao momento atual do jogo que são as “Caminhadas Temporais”, mas nesse caso são conteúdos específicos e não a expansão inteira.
Nesse âmbito de conteúdos antigos para mim foi interessante fazer uma parte da história do Cataclisma, de Draenor e de Pandaria, por causa da história, ler sobre aqueles acontecimentos, ver as cinemáticas dentro do jogo é bacana, mas mesmo essa experiência fica comprometida um pouco, pela facilidade.
E é meio óbvio do porquê do game design do wow ser assim, para além da facilidade de equilíbrio de poderes, ter quase um recomeço a quase dois anos facilita receber novos jogadores. Talvez você não saiba, mas novos jogadores são o foco dos estúdios de MMORPG, pois os veteranos estão conquistados, mais difícil perder essa renda, já que são jogadores vinculados ao jogo, não querem perder o tempo gasto, criaram laços com a comunidades e etc., se saírem e continuaram jogando MMORPG, irão retornar, já foram convencidos a jogar o jogo, já novos jogadores, precisam ser convencidos do zero.
Essa mentalidade fica muito clara com os patrocínios das empresas de MMORPG em relação a produtores de conteúdo. Streamers e youtubers que estão muito vinculados a um jogo, ou jogam apenas aquele jogo relatam receber menos ou nenhum patrocínio/suporte da empresa proprietária do jogo, já produtores de conteúdo que não jogam aquele jogo são assediados por essas empresas, isso se dá pela necessidade de buscar novos públicos, novos mercados, e também pelo fato de que eles não precisam gastar com quem já está gastando seu tempo e cobrindo seu jogo, normalmente de forma gratuita.
Ainda sobre os jogadores novatos, eles costumam ter um pé atrás de investirem seu tempo em MMORPGs mais antigos, entre alguns fatores, a comparação com os veteranos é um dos motivos, a desigualdade de poder. No caso do WoW com o recomeço a cada temporada, esse bloqueio de intenção dos novos jogadores se esvai, é claro que a quantidade de riqueza e conhecimento do veterano não some, porém há uma linha de partida mais comum a todos, principalmente com o boost de xp que se ganha ao comprar uma expansão para colocar um personagem direto no 70 por exemplo.
Isso também fica claro na motivação do WoW na perspectiva de receita, que é a assinatura e as expansões, e portanto o jogo todo te empurra para a última expansão, onde você irá gastar seu dinheiro, e conteúdos sendo lançados lentamente durante a expansão para que você permaneça no jogo, ou ao menos voltando regularmente para o jogo.
Ainda assim prefiro o modelo por assinatura, do que modelos com VIP ou P2W, no WoW ao menos boa parte dos cosméticos interessantes estão no jogo para serem pegos, diferente de jogos onde boa parte deles está na loja por dinheiro real. Outro diferencial da mensalidade é que não é preciso criar escassez artificial, como um inventário pequeno, para vender um VIP que te dá mais espaço no inventário.
Jogos gratuitos tendem a ser mais caros a longo prazo que jogos pagos, ponto positivo para o WoW nesse quesito.
Mas como sempre digo, o jogador deve subverter ou submeter o gamedesign a sua gameplay, portanto nada impede que você fique na penúltima expansão upando e explorando, ou melhorando sua guarnição em Draenor, ou pescando em Pandaria, ou dormindo debaixo de uma ponte, ou seja lá o que você tiver vontade de fazer.
Tem gente que foca em pvp, gente que apenas explora os segredos do jogo que são inúmeros, gente que faz apenas imersão ou raids, enfim não há regras.
World of Warcraft é um dos melhores MMORPGs, não estou escrevendo tudo isso para falar mal dele, pelo contrário me diverti muito nele.
E esse é o ponto desse texto, WoW aparentemente para a grande maioria dos jogadores (fora aqueles que não estão no Mainstream das atividades do jogo) é um jogo de acumular quinquilharias e competição de quem faz algo primeiro, mata mais gente, ou acumula mais trecos.
Mesmo quando a história é ótima, o que motiva os jogadores é colecionar coisas e competir, e não há nada de errado.
Sabemos que isso não é uma particularidade do World of Warcraft, a grande maioria dos MMORPGs modernos se tornaram uma plataforma de colecionismo e competição, quem joga ESO por exemplo sabe o poder que colecionar trecos tem por lá.
Uma outra parte importante é a social, o elo que nos faz permanecer no jogo, as relações que construímos, afinal somos criaturas sociáveis e todo jogo online propicia isso, é online exatamente para termos esse contato, ou ao menos para vermos outras pessoas correndo para lá e para cá fazendo coisas.
A relação entre os jogadores é um diferencial, ainda nos organizamos em grupos para fazer conteúdos, para superar desafios no pvp e no pve, criamos proximidade, amizades. Por passarmos muito tempo online, criamos laços profundos.
Os MMORPGs e jogos em geral se tornaram de forma bem dramática nesse século um caça níquel, podem ter as vezes uma boa história, você pode fazer amigos, e pode acumular coisas virtuais, mas nada que você não possa fazer em qualquer outro lugar.
Jogos se padronizaram de uma forma tão grande que é difícil se empolgar com um lançamento novo, que tenha algum tipo de inovação, há um modelo a ser seguido que maximiza lucro, e toda a indústria está repetindo isso. Esse modelo trespassa o gênero de jogo, Fortnite por exemplo e qualquer outro MMORPG são jogos como serviço, jogos single player, mas com um modo online cooperativo, passam a ter passes de batalha vendidos mensalmente, também é um jogo como serviço.
Não importa o gênero o modelo de negócio é o mesmo, e o game design precisa ser o mais casual possível para atender a falta de tempo dos jogadores e sua pressa em acessar a descarga de dopamina o quanto antes.
Essa percepção de produto construído para maximizar venda, apelando para o nosso comportamento inconsciente (para não dizer abusando desse comportamento), também pode ser vista no cinema, no streaming, nas gibis, na indústria de entretenimento como um todo.
Tudo que é massivo, está massivamente sendo produzido para gerar um lucro exorbitante, e acredite a diferença entre muito game mainstream para o “tigrinho”, é que os games “mainstream” estão regulados, seguem alguma regra, e mesmo assim há estúdios contratando psicólogos que trabalham em cassinos, para implementar mecanismos viciantes em seus jogos, alô Diabo Immoral!
Bom, então por algo ser comercial devemos parar de jogar e nos divertir? Não, de forma nenhuma, eu não irei parar de jogar videogame, no meu caso a quantidade de horas jogadas está diminuindo cada vez mais, devido ao desinteresse, assim como ocorre com muitas séries. Tudo está previsível demais, já que é feito para agradar a maior quantidade de gente possível, e dessa forma fica difícil trazer algo que seja interessante. Mas com certeza você sempre poderá me ver jogando algo.
A questão não é parar de jogar, a questão não é o WoW, os demais MMORPGs, ou tudo que a indústria de entretenimento produz, mas sim entender o que se está jogando, o porque se está jogando, quanto tempo se está jogando, e se estamos ou não se divertindo. Para assim não se tornar um mob de uma empresa grande.
Esse texto é apenas um desabafo, um devaneio como gosto de falar.
Espero que ninguém leve pro pessoal, afinal nós fãs de MMORPGs costumamos defender o nosso joguinho com unhas e dentes.
É uma opinião, e portanto tão subjetiva quanto ela pode ser, você pode contrapor e dar a sua também, o espaço dos comentários está aberto, irei adorar trocar essa idéia!
Obrigado
Num falei =DDDD
ResponderExcluirFalou! Rsss
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