Trilogia O Hobbit e o eterno fã insatisfeito


Para variar em momentos onde preciso de algum conforto, revisito mundos que são queridos para mim, e uns dias atrás vi novamente a trilogia do Hobbit.

Cabem muitas críticas a esse filme, e não irei aqui fazer defesa direta a elas, exceto pela óbvia, aquela que diz que é uma trilogia caça-níquel. Eu acho muito engraçada essa, afinal dentro do sistema que vivemos, o que não busca lucro?
Criticamos governos que são deficitários, sendo que para atender a toda população, eles terão que ser. Mas sobre os nossos mundos favoritos, nós queremos uma zelosa gestão da originalidade, da qualidade e gastando horrores, mesmo que em detrimento da capacidade de atingir o maior público possível, independente de quanto os filmes arrecadem, afinal é nossa "franquia" favorita.

O próprio uso da palavra "franquia" costumeiramente na boca de vários fãs, já denuncia que não temos uma obra dedicada a si própria, mas sim a bonecos, jogos, e qualquer produto que gere grana.
A grande maioria de produtos "secundários" dos nossos mundos favoritos, não são feitos para atender os seus atuais conhecedores, e sim para atingir novas pessoas, novos públicos, e quanto mais gente mais dinheiro, portanto tal produto terá que ter características generalistas, com uma narrativa com pitadas de todos os sabores, parar agradar a todos os paladares.

Então, fazer crítica ao lucro em um produto seja ele qual for, só faz sentido se você irá questionar o sistema capitalista, então caso você não queira modificá-lo/derrubá-lo, é melhor lidar com a realidade de forma mais madura e coerente. Não faz sentido criticar o lucro em uma obra que você é apaixonado, mas defendê-lo ao mesmo tempo em todo o resto. Um tanto incoerente.

Alguns podem dizer que na arte não deveria ser priorizado lucro, eu até concordo com isso, porém dentro desse sistema o lucro é priorizado no atendimento médico, seja na emergência ou em uma consulta, quem paga mais, fura a fila e recebe melhor atendimento. Se nessa forma que estamos organizados, a saúde tem em seu sistema o lucro priorizado, quem seria a arte na fila do pão? Tirada essa crítica da frente, e ignorando as demais, afinal são oriundas da primeira, eu me sinto tão sortudo de ver filmes como esse sendo feitos, de poder estar vivo para vê-los, meu eu adolescente se refestela com o fato disso estar na tela (desculpe a rima não proposital). Era muito difícil ter material de fantasia medieval em mãos, Senhor dos Anéis e o Hobbit eu tive acesso pela tradução portuguesa, na biblioteca da escola. Os livros de RPG eram todos em inglês, e todos que eu tive contato eram xerox. Materiais em português de Dungeons & Dragons, só chegaram por volta de 1991 com a Abril se não me engano. (Não eu não era um jogador de GURPS, sorry) Nas telas a fantasia medieval eram os filmes do Conan, Willow, Feitiço de Áquila e coisas assim, eu os adorava, mas tem uma diferença muito grande com o que vemos hoje, principalmente do lançamento do Senhor dos Anéis nos cinemas para cá. A qualidade aumentou devido a tecnologia com certeza, mas também devido a atenção a esse nicho, muito maior agora, sem falar na quantidade, temos mais obras do gênero sendo adaptadas e/ou refilmadas. Portanto essa trilogia e outras obras assim, para mim é como um ar fresco, para tomar um fôlego, e me tele transportar de novo para a Terra Média, para a Era Hiboriana e demais mundos. Acredito que se o filme tivesse outro nome, sei lá "Os pequenos e a Montanha", as criticas iam todas sumir, afinal como um filme de fantasia medieval, é muito divertido. O mesmo ocorre com o filme do Warcraft, se tivesse qualquer outro nome, teria tido até mais sucesso nas bilheterias talvez. A mesma coisa ocorre com as séries Casa do Dragão, ou Os Anéis do Poder.

(Lembro que não estou fazendo uma crítica técnica sobre roteiro, fotografia, e outras coisas, minhas observações são sobre o 4fun da coisa. ;) ) Eu gosto de usar sempre uma analogia, onde cito Jesus, que é um grande cara, incrível e admirável, mas os seus fãs, a sua fan base, que Aulë me livre dela! A mesma coisa ocorre com essas franquias. A pior coisa delas são seus fanáticos, chatos pacas. Digo tudo isso, para questionar esse apego que temos com nossas "franquias", de uma forma psicótica, afinal elas não são nossas, o que é nosso, são nossas experiências com as diferentes mídias, com os diferentes produtos, e principalmente com as pequenas coisas que fazemos nós mesmos, seja um pequeno quadro, que penduramos para nos lembrar de nossa passagem por lá, seja o sistema caseiro de RPG criado por nós para imergimos nessa fantasia, as histórias que temos com os nossos jogando um MMORPG e as pessoas que conhecemos e reunimos em volta dessa paixão. Isso é nosso, e deveria ser valorizado!

Eu sou grato por poder ver esses filmes, e não passo pano para a qualidade ou qualquer outra crítica a eles, mas busco não idealizar a execução desses projetos, e proteger a minha experiência da realidade nua e crua de fazer grana em cima das paixões alheias. Deixar minha indignação para as batalhas mais produtivas, ou ao menos mais importantes para mim.
Afinal enquanto lutamos diariamente pelo nosso sustento, e para tornar o mundo o que esperamos o que ele seja, através de nossas ações individuais e coletivas, eu preciso de um filminho, uma série e um joguinho gostosinho, para não enlouquecer! E você, é um eterno fã insatisfeito? Ou apenas quer um mundinho fantasioso de vez em quando para desligar das tretas da vida, e lutar de novo amanhã? Me fala aí nos comentários!

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